A foto retrata bem a diferença do Brasil e países desenvolvidos. Aparece uma pessoa negra (brasileira), uma amarela (descendência asiática), e brancos. A diversidade e as oportunidades fazem muita diferença. No Brasil, a oportunidade para pessoas negras e indígenas ainda são ínfimas comprometendo a igualdade, o desenvolvimento e a própria identidade do país.
Se estivesse no Brasil, Nádia Ayad seria mais uma aluna negra lutando pelas cotas ou por oportunidades. Mas, o caminho que a carioca, formada em Engenharia de Materiais, pelo Instituto Militar de Engenharia (IME), seguiu foi vitorioso. Fazendo doutoradona Universidade da Califórnia, Nádia foi destaque nos meios de comunicação ao vencer um concurso mundial organizado pela Sandvik sobre aplicação de grafeno. À base de carbono, o grafeno é o material mais fino e mais forte já criado, além de ser transparente e um excelente condutor de calor.
Ainda graduanda, a brasileira pesquisou as propriedades do grafeno e avanços recentes até ter seu insight: usá-lo em um sistema de filtragem e dessalinização de água para reciclá-la e assim, combater, a escassez em regiões áridas e semiáridas.
Entre trabalhos voluntários, estágios de pesquisa e iniciações científicas no Brasil e no exterior – ela passou um ano na Universidade de Manchester, onde o grafeno foi criado, e estagiou na Imperial College London –, Nadia diz ter consolidado sua escolha de carreira.
Durante a infância, Nadia cansou de ver o pai trabalhar à noite ou em fins de semana para checar um experimento. “Eu via como meu pais e outros cientistas próximos a eles não eram valorizados e, de certa maneira, trabalhavam principalmente por amor. Tive a sorte de contar com os meus pais para me mostrar isso dentro e fora de casa, mas precisamos que mais pessoas tenham acesso a mostras de ciências e programas educativos”, destacou
A falta de conhecimento e interesse popular pela ciência tem aspectos perversos. Desestimula jovens a seguirem a carreira tanto diretamente – eles optam por carreiras mais lucrativas, por exemplo – quanto indiretamente, ao não mostrar que ela é possível para todos e não só para privilegiados.
Nadia tem consciência de sua responsabilidade em relação a isso. Ela integra uma estatística dupla e desgostosa: faz parte das apenas 5,5% de mulheres negras bolsistas do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), órgão ligado ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação e que tem por objetivo fomentar o tema no país.
Defensora de ações afirmativas como cotas e da importância de modelos inspiracionais – ela cita o longa Estrelas além do tempo, sobre um grupo de cientistas negras da NASA nos anos 1960, e um filme em desenvolvimento sobre Enedina Alves Marques, a primeira engenheira negra do Brasil –, Nadia diz que a diversidade é fundamental para a inovação. “Pessoas diferentes têm maneiras diferentes de abordar um problema e talvez seja aquela criança que não teve a oportunidade de ter uma boa educação que tem o potencial de descobrir uma cura para o câncer. O Brasil é um país cheio de mentes brilhantes, porém o que falta são oportunidades – tanto para que essas mentes descubram que podem ser cientistas quanto oportunidades para atingir esse sonho.”
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